domingo, 11 de março de 2012

Diário de um Suicida - dia 30


10:00

Faz alguns dias que não escrevo aqui. Os dias tem sido agitados. No sábado meu avô faleceu. Quando o telefone tocou e vi a reação de minha cunhada eu já compreendi. Terem vindo me falar depois foi apenas uma confirmação desnecessária. Não sei explicar, mas a última lembrança que tenho de meu avô foi numa manhã no hospital, ele estava na varanda e eu ao seu lado quando veio o médico conversar com ele. Ele disse ao médico que estava agoniado por ter de esperar a operação e não ter previsão de alta, e que sentia falta de minha vó, se preocupava por ela estar só. Ele então chorou. Nunca havia visto meu avô chorar, e aquela cena me comoveu sobremaneira que sempre que me lembro e como se estivesse vivendo aquilo novamente.
No domingo foi o enterro. Se não me falha a memória é a primeira pessoa realmente próxima de mim que morre. Chorei bastante. Tanto me fez chorar a dor da perda quanto a dor de ver meu pai destruído pela tristeza. Jamais havia o visto assim. Espero que o tempo faça seu trabalho e leve embora a tristeza. Espero que minha vó resista à perda de seu companheiro de vida. Foram cerca de 60 anos juntos.


23:32

Hoje pela tarde fui na orla ver o mar. Por muitos vezes lá estive acompanhado de uma amiga, e me doeu perceber que desta vez eu estava só. Todos precisamos viver nossas vidas e seguir nossos caminhos, e por vezes os caminhos percorridos nos afastam de algumas pessoas. O caminho que agora trilho me afasta de todos. Sou o lobo da estepe. A solidão para mim não é uma opção, mas sim uma necessidade. Enquanto estive ali sozinho observando a cidade do Rio do outro lado da baía, tive um sentimento nostálgico, uma sensação de vazio e uma saudade de tudo aquilo que vivi, tudo que deixei para trás por egoísmo ou por vaidade. Ouvi o lobo dentro de mim uivar e tive medo. Olhei para as pedras e por uns instantes pensei em pular. Minha vida está obscura, a névoa cai e não enxergo um palmo à minha frente. Este quarto solitário é como uma cela, aqui é minha fortaleza da solidão. Só me resta dormir, e aguardar com paciência o que o destino me reserva. 

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