quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lágrimas





Lembranças,
Agora são cinzas.
Gostaria que voltasse,
Relembraríamos de Minas.
Irei até sua casa,
Mas não me receberá.
Ainda sinto saudades,
Só o que me resta é chorar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O fantasma literato

Eu nunca fui um bom falador, nem um orador, nem nunca dominei a retórica como deveria. Quando as palavras saem da minha boca, um punhado delas faz sentido e se organiza razoavelmente de acordo com a semântica e com a sintaxe. Entretanto, sempre chega o momento em que elas se embaralham, e eu me torno tão ininteligível quando caligrafia japonesa para um ocidental.

Não interessa no momento expor os motivos que me levam a ser assim. Certamente são muito mais complicados para os meus quase inexistentes conhecimentos em psicologia, antropologia, sociologia ou alguma outra ciência que se atreve a explicar o humano. Mas eu sou assim. E infelizmente não sei ser diferente.

O Princípio de todas as coisas, Justo, dignou-se em compensar minha falta de eloquência com certa proficiência em escrever. Eu escrevo certo as linhas tortas da vida, e por algum motivo as minhas palavras tocam os corações sensíveis. Eu sinceramente não sei como eu o faço, mas por vezes, acontece. Acontece que nem sempre este "toque" encontra seu lugar no mundo real, sendo apenas uma boa idéia do mundo... das idéias!

Por quase uma década eu escrevi, escrevi e escrevi. Idéias bonitas, Idéias que qualquer bella donna do século XIX lograria trazer do mundo das idéias ao mundo real em questão de segundos. Mas a minha proficiência falhou. Na verdade, como chamar de falha algo que é semelhante a tudo que sempre aconteceu? Quando muito, devo chamar este acontecimento de "a normalidade mais triste".

Minhas palavras e letras proliferam-se como mosquinhas ao redor da lâmpada numa noite quente. Mas não há tranças descendo do topo do castelo, nem realezas numa cama, rodeada de duendes, esperando um cavaleiro descer de seu cavalo e acordá-la do pesadelo venenoso. Talvez porque não haja lugar no mundo para contos de fadas. Contos de fadas são para crianças. Mas por acaso, o mundo não seria mais leve se nós o olhássemos com os olhos de um infante? Enfim...

O amor é uma coisa séria. Ele não tem explicação, ele cega e dá a visão. Ele escraviza e liberta. Ele causa doenças, e traz a cura. Ele mata, e ressuscita. Ele pode ser o céu ou inferno. Ele pode ser um rebuscado tocar de violinos, ou pode ser o ruído estridente de um pedaço de giz no quadro-negro.

Para mim, por quase uma década ele foi a escravidão, a cegueira, a doença, a morte, o inferno, o som agudo da solidão e do abandono. Certa vez, falaram-me de um certo fantasma da ópera, que sequestrou sua amada soprano no meio de uma opereta. Por outro lado, eu sou senão um fantasma literato, que cura suas feridas porque não há mais o que sequestrar.

Por alguns dias, senti ódio. A linha tênue entre o ódio e o amor desaparecera, e eu passei a odiar. Em seguida, o ódio passou a ser desprezo. Mas um desprezo mais ácido do que aquele que fora dispendido a mim. A acidez foi diminuindo sobremaneira, e hoje o que restou é indiferença. Mas fantasmas também possuem seus fantasmas, num círculo vicioso ectoplásmico de noites mal dormidas, corações apertados e dedos nervosos para enviarem um e-mail, um sms, uma carta. Escrita sempre. Lembram-se? Não tenho talento para a retórica e eloquência.

O coração apertado da espera de uma resposta é um fardo muito pesado. E quando aquela pessoa de quem você espera te tortura com adiamentos e silêncio como resposta, é o fim do mundo, e este comportamento é uma amostra do caráter do qual nós pintamos uma imagem totalmente diferente e, obviamente, falsa.

Amigos, escrevam vocês mesmos seus evangelhos. Sejam para si mesmos a Boa nova que salvará as suas almas do desprezo de terceiros. Amem-se. E se quiserem ser literatos, sejam! Não há mal nenhum em saber se expressar melhor com a caneta na mão do que com verbos na boca. Mas não se tornem fantasmas penando atrás de alguém. Palavra de quem, só depois de muito tempo, engatinha rumo à liberdade que tanto anseiou.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Chuva Fina


Gotas adornam os vidros,
O passar dos carros levanta respingos,
O céu cinzento me inspira incerteza,
E junto com ela demasiada tristeza.

Sonho com dias de céu azul,
Quando possuía seu corpo nu.
Mas o tempo passou trazendo cobranças,
E agora só me restou a carranca.

O horizonte,
Agora nublado,
É o prelúdio de dias fechados.

Aquela carta,
Que não chegou,
Continha a essência do que sobrou.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Invadidos

Era uma noite de verão, quente, sem núvens no céu e com a lua brilhando plenamente em esplendor. Eu e alguns amigos e amigas acampávamos na praia. Éramos em torno de nove pessoas, e estávamos nos divertindo bastante ao som de um velho violão, cantando canções que há muito não se ouviam na rádio.

De repente, viu-se algo estranho na lua. Uns discos luminosos dela saíam e chegavam à praia numa velocidade surpreendente, como se nada fossem os trezentos e oitenta mil quilômetros que nos separam de nosso satélite. Eu estava afastado do grupo, admirando o mar, sentindo o cheiro de maresia que me trazia tantas lembranças. Quando percebi o problema, corri com todas as forças que tinha, embora ainda assustado, para dentro da nossa tenda, onde estavam todos os meus amigos que, assustados pelo estranho fenômeno, desistiram de ficar sob o olhar indiscreto das estrelas.

Na hora em que entrei na tenda, perto de nós um daqueles estranhos discos pousou. A histeria tomou conta de todos. Um ser esquisito entrou também na tenda, e o pânico foi geral. Uma voz robótica, meio metálica, disse-nos para não ter medo. Ele era um dissidente do povo que estava a invadir a terra. Disse que era contra o total extermínio dos terráqueos, e que, apesar de ser necessário para a sua raça a tomada do nosso planeta azul, defendia que era preciso conservar parte da espécie, para que pudesse crescer noutro planeta semelhante à terra.

Deu-nos, então, a sua nave, que estava programada para partir até um outro planeta, segundo ele, semelhante à terra. Disse-nos que teríamos bastante tempo para criarmos uma nova civilização, já que levaria milênios até que os alienígenas invasores pudessem esgotar todos os recursos do nosso planeta. Entramos todos, tristes e abatidos. Mas com a promessa e a esperança de que faríamos uma civilização melhor...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

De leve

Lá vem ele, maria fumaça louca
Com sua canequinha soturna
Olhar profundo, paciência pouca
Presença diária, vespertina e noturna

Vem gritando como um insano
Ou rindo como um psicopata
 Não dorme há mais de um ano
Mais ciumento que mamãe pata

Sente-se as pisadas enfurecidas
Dos seus pés, pela pressa tão zelosos
Distribuindo sentimentos suicidas
Aos seus vassalos melindrosos

Ele vem, descendo pelos montes
E seu cabelo é branco como a neve
E os seus olhos são como os de rinocerontes
Ele vem, incendiando tudo de leve


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Solidão Marinha


O cheiro salgado do mar,
Lembra o gosto de minhas lágrimas.
E quando vou à praia meditar,
Elas se misturam com as águas.

São muitos caminhos a se trilhar,
Para onde quer me guiar?
Quando chorei, não estava lá,
Como poderei confiar?

Mergulhei no profundo mar,
Uma onda me pegou.
Depois de tudo, me afogar?

Ainda não descobri o amor.
De noite, na solidão de minha cama,
Rezo e sinto saudades de quem diz que me ama.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Antropônimo

Sou um João solitário
Quando em paz, viro Pacífico
Se sou herege, torno-me Ário
E Crisóstomo, se sou prolífico

De muitos nomes vive o homem
Sou, assim, Manoel, ao assar o pão
Quando a paciência e a calma somem
Faço guerra chamando-me Napoleão

Se este soneto tivesse nome
Reza a lógica dos substantivos:
'Chamaria-se heterônimo'!

Mas como morre de fome
Quem do raciocínio quer donativos
Diga-se apenas: 'Chama-se antropônimo'!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Aequilibrium



Quando aquilo que amava,
Já não é mais permitido,
O que fazer?

Quando o beijo que esperava,
Se converte em fel ressentido,
O que temer?

Quando o amigo que confiava,
Se torna o perverso inimigo,
Como não sofrer?

Quando tudo que importava,
Perde todo o sentido,
O que querer?

A vida nos dá,
A vida nos tirá.
Buscas felicidade?
Tenha ousadia.
Quer ser feliz?
Entrega tua vida.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Matrioshka

Ad infinitum, ao infinito eu sigo
Neste brinquedo sempre surpreendente
Ouço Zenão comunicando-se comigo
Pelo diálogo icônico na mente

O sorriso delas é inocente
E ao mesmo tempo, sombrio
Como uma verdade que mente
Como um calor que causa frio

Pequenas e cada vez menores
Ensinam-me estas danadinhas
Que somos sempre melhores
Nos livrando de inúteis casquinhas

Do tamanho de uma noz
Ela sorri, mestra na simplicidade
Ensinou-me a desaguar tristezas na foz
Ao procurar infinitude na eternidade

Minha matrioshka tão mestra
Almejo mudar sem sofrer perda
E que não saiba a minha destra
O que planeja a minha esquerda!

Spaciba! 


domingo, 2 de dezembro de 2012

3ª pessoa feminina do singular

Abro a gramática a tua procura
Quando a esperança, sorrateira, me abandona
Em pretéritos mais-que-(im)perfeitos procurei a cura
Num futuro do perfeito está la bella donna

Tudo parece uma semântica perdida
Embaralhada numa sintaxe confusa
A procura de uma vida vivida
É um filme de mensagem obtusa

Vesti-me num ente abstrato linguístico
Um índice de indeterminação do sujeito
Para escapar do pesar altruístico
De saber que sou assim, tão imperfeito

Talvez não me haja merecimento algum
Além do vazio peremptório do lar
Mas, obstinado, busco num "a" ou num "um"
Uma terceira pessoa, feminina - e ainda oculta - no singular.

Para Ela



Razões para o amor?
Ainda não descobri.
Quero sentir este ardor,
Um sentimento que nunca senti.
E você me veio louca...
Lhe digo: não resisti.

Também sente o que sinto?
E essa saudade...que abismo.

Agora, mais que nunca,
Me declaro de joelhos a você.
O meu coração numa bandeja?

Diga, e você vai ter.
Olha como está linda a noite,
Irá comigo passar o pernoite?
Depois da madruga, o prêmio:
Acordar com você.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Móveis


O short florido do cobrador da van,
Me faz lembrar das flores do jardim.
Que minha vó cultivava toda manhã,
Quando você se esqueceu de mim?

O óculos vintage da menina de saia riscada,
Reluz a luz no capuz de avestruz.
Quando te pedi para ser minha namorada,
Vi que seu machucado não tinha pus.

A van cruzou a ponte,
A baía não é Aqueronte,
Mas cumpriu o papel infernal.

Caiu lá de cima e morreram todos,
Mas para o seu total desgosto,
Desci antes do ponto final.