quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Lua rubra

Nem toda morte é maldade
Nem toda mentira é inverdade
A alegria faz-se virtuosa
Tristeza em polvorosa!

Salve a terra da poesia:
Párnaso, já não és mais fantasia!
Nem todos os olimpos e panteões
Aguentam os rugidos dos leões

Loucos! Quem de vós age assim
Derrubando a árvore da jasmim?
Quem odeia divina fragância
É réu em qualquer instância

Ó vida de imprestáveis ânsias!
De inimagináveis discrepâncias!
Tuas tolas responsabilidades
Quebram o existir em mil partes!

Mas minha poesia é minha alegria
Lembrei daquela que sorria
O destino quer que ela descubra
A luz vibrante da lua rubra

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Contos I (+18)


Sete meses. Sete meses que eles não se viam. E nesses sete meses distantes, ele a excitava com recados, por telefone, com histórias. Embora possamos contar o tempo, não podemos contar quantos orgasmos ela teve nestes sete meses, pensando nele. Ele já havia arquitetado tudo, e para ela seria surpresa, afinal, ele era o Dominador, e ela a submissa. Ela foi buscá-lo no aeroporto, chovia torrencialmente. Ele estava vestido como há 7 meses atrás: jeans, tênis, camisa e um blazer. Ela estava de vestido, meia calça e casaco. A recepção não foi como da primeira vez. Não haviam hipóteses, só certezas. Ela o beijou. Um beijo molhado, lascivo, demorado. Algumas pessoas que se encontravam no saguão do aeroporto se escandalizaram, pois além do beijo, a mão dele adentrou por baixo do vestido dela, mas ela, recatada, interrompeu sua investida despudorada. Ele não gostou, e disse a ela que ela seria castigada por tê-lo interrompido. Ela então sentiu uma mistura de prazer e medo. Ele era forte, vigoroso, e sabia causar dor, quando queria. Saíram então do aeroporto e tomaram um táxi. Ele quis ir para o mesmo hotel que passaram na primeira vez. Devido à chuva, estava um pouco engarrafado; antes tivessem tomado o metrô.

Dentro do táxi, ele não usou as mãos, mas foi mais covarde. Utilizou de todo seu arsenal linguístico, sussurrando obscenidades e putarias que faria com ela no quarto. Ela estava molhada, encharcada, e agora até desejava que ele usasse os dedos, mas ele não o faria. Ela não se aguentou, soltou um breve gemido, que acompanhara o gozo. O taxista, safado, olhou para trás pelo retrovisor e sorriu, e a viagem seguiu, tranquilamente.

Chegaram no hotel. Quarto para dois. Deram os nomes, identidades, e assinaram. Terceiro andar. No elevador, ele não a tocou, nem olhou para ela. Ao descerem no andar, desferiu um violento tapa em sua cara. Aquele era o castigo. Ela não revidou, nem tentou desviar. Após o tapa, puxou seus cabelos e a beijou, enquanto a outra mão ia por debaixo do vestido, só para excitá-la ainda mais. Parou subitamente, e se dirigiu para o quarto, ela o seguiu, como a cachorrinha que era.

Chegando lá, ele se despiu, e sentou numa cadeira. Mandou que ela se despisse, e ficou observando e se masturbando. Com ela nua, a amarrou com sua faixa de jiu-jitsu, a outra ponta da faixa amarrou na cama, e deixou ela deitada no chão, amarrada e vendada. Foi tomar um banho rápido. Ela podia ouvir ele se banhando, o barulho da água caindo do chuveiro, ele assoviando. Até que o chuveiro se desligou. Ela já estava molhada, não via a hora dele começar. Ouvia ele se enxugando, ouvia os passos, até que pôde sentir ele por perto. Ouviu um fósforo sendo riscado. Era ele acendendo a vela. Ele então se ajoelhou perto dela. Começou a beijá-la, intercalava mordendo os lábios dela, e então desceu para o pescoço. Beijava com vontade, mas com cuidado para não deixar marcas. Desceu então para os seios, e chupava e mordiscava sem dó os mamilos dela. Ela gemia. Ao mesmo tempo, pegou um consolo e começou a penetrá-la com ele. O corpo dela vibrava, ela gozava seguidamente. Até que ele parou. O que viria agora? Então ela sentiu. Com uma outra faixa, ele a batia. Mas foram poucas faixadas, pois deram lugar à cera da vela. Ele, vagarosamente, derramava a cera, quente, nos mamilos dela. A dor era saborosa, e ela já estava totalmente louca. Então ele colocou os pregadores nos mamilos, e aí se afastou. Ela não sabe ao certo quanto tempo durou até ele voltar, mas seja lá quanto foi, para ela pareceram horas. Então ela ouviu ele se sentando na cadeira próxima. Sentiu então ele colocando os pés no rosto dela, fazendo com que ela chupasse seus dedos, e ela prontamente o fez, como uma cadelinha de estimação. Depois disso ele começou então a penetrá-la usando os dedões do pé. Ela não esperava, e justamente por ser inesperado, deu a ela mais prazer. Ele então parava alguns momentos e levava os dedões a boca dela, para que ela provasse do próprio gozo, e então cuspia na cara dela. Mas logo voltar a penetrá-la. Ora a batia com a faixa, ora renovava a cera quente nos mamilos, e aquele ritual durou horas. Ele, então, no auge da excitação, levou o pênis à boca dela e gozou, dando a ela seu leite quente. Devido ao tesão dele, o orgasmo foi explosivo, e uma parte espirrou para o chão. Ele então puxou ela pelos cabelos e a fez lamber tudinho. Nenhuma gota podia ser desperdiçada. Então desamarrou-a, libertando-a, aconchegou ela em seus braços e ternamente, a beijou.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Epidemia

Um misto de alegria e otimismo
Com um pouco de paranóia e pessimismo
Células amargas, doces mitocôndrias
Satisfação mental, saudáveis hipocôndrias

O sol emerge na aurora
Abatimento chega em sua hora
Mas assumimos logo a preguiça
E a felicidade, abatida, enguiça!

Enquanto seres infectados
Pela dinâmica ociosa burguesa
Estaremos sempre amordaçados
Com um pão mofado na mesa

Mas se achamos a cura
Da epidemia que nos acomete
Celebraremos o fim da loucura
E a felicidade que a liberdade promete

domingo, 28 de outubro de 2012

A lança mais forte

O que acontece?
Com o escudo mais forte do mundo
Quando, súbito, ele conhece
A lança mais forte, que nele adentra profundo?

Diriam que ambos se espatifariam...
Então corre este perigo comigo
Deixa que esta colisão seja nosso castigo
Para vermos se nossos corpos se amariam...

Quero ver tua resistência, lindinha
Apenas para com ela acabar
Mostrar que com uma agulha e uma linha
Qualquer ferida pode-se costurar

Esquece o passado
E deixa-me um beijo te dar
Deixa seu coração, pela lança mais forte, ser transpassado
Para que o sol possa, para ti, novamente brilhar

Pombeu



Estava lá o pombo,
Na beira da piscina nos fundos da casa.
Tinha acabado de pousar.
A água esverdeada, infectada,
Era nela que sua sede ele queria matar.
Eu observava da janela,
E ele, olhou para mim.
A princípio, sentiu medo,
Mas manteve o olhar.
Esperava que eu o afugentasse,
Que atirasse com meu bodoque.
Mas não, me mantive imóvel.
Aquele maldito pombo hipnotizou-me.
Ele bebia da água da piscina,
E a infectava ainda mais (ou não?).
Quando dei por mim, o pombo era eu,
Que bebia da fonte da vida eterna.

sábado, 27 de outubro de 2012

Beba água



Não pense na vida como uma competição,
Senão sempre haverão perdedores.

Não cobre demais de você,
Ou poderá nunca estar satisfeito.

Presenteie-se de vez em quando,
Você merece.

Acorde cedo, faça o que é preciso fazer,
Não acumule tarefas!
Pois o amanhã sempre nos reservará mais trabalho.

Preocupe-se com sua saúde,
Mas não se torne um escravo da balança.

Coma o que lhe der vontade,
Mas fuja dos excessos.

Seja comedido no falar,
Às vezes podemos nos arrepender do que proferimos.

Não digas,
Aja.

Preserve o planeta, ele é sua casa;
Não jogue lixo no chão da rua.

Creia e dê bom exemplo para a posteridade,
Eles governarão o mundo no qual você envelhecerá.

Não se preocupe com a morte,
Logo logo ela virá, relaxe.

Sorria, mas não exagere,
Sorrisos forçados podem significar estupidez.

Não faça dos holofotes sua vida,
O principal acontece na coxia.

Ame, entregue-se, não se limite.
A perda dói tremendamente, mas a felicidade vivida faz valer a pena.

Enxergue para além das aparências,
Pode encontrar a felicidade onde menos esperar.

Tenha um hobby,
Dedique-se a algo simplesmente por amor.

Escreva um livro um dia,
Você tem histórias para contar.

Não permita-se mudar por alguém.
Se alguém não te ama como é, 
Não é uma mudança que fará com que te ame.
Sempre pedirá para que mude mais.

Respeite os mais velhos,
Mas não deixe que ninguém dite as regras da sua vida.

Pare um instante por dia para refletir,
Principalmente antes de tomar decisões importantes.

Em alguns momentos, abandone o computador,
A televisão, a música e até os livros.
Tem pessoas lá fora, conheça-as.

Não se torne escravo do trabalho,
Não acumule riquezas que não vai poder usufruir.

Estes conselhos, são apenas a ponta do iceberg...
Viva amigo, o necessário já está dentro de você,
Você é capaz de encontrar seu caminho no mundo.

A vida amigo, ela acontece hoje.
Um mundo lá fora te espera.
Mas não se esqueça:
Beba bastante água.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Curativo


Em tua pele vejo feridas
Mas sem feridas, tua pele eu não vejo
Não há necessidade de despedidas
Não vês, da saudade, um lampejo!

Tens quem te sopre o dodói
Quando ralas o joelho no chão
Rancor, todo mundo remói
Quando vens pedir proteção

Petrifica o soldado que te guarda
Só assim ele nunca fugirá
E não precisarás de curativo

Ameniza a justiça que te aguarda
Só assim ela não te condenará
Ao queimar com o remédio ardido

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O choro

O choro do amor é a glória
Da saudade é a memória
Da ambição é a decepção
Da despedida é a atração

O preço da raiva é o ódio
Do treino é o pódio
Da bondade, misericórdia
Da maldade, discórdia

E o preço do choro
Nem mil quilos de ouro
Haverão de pagar

Só o choro do preço
A pagar pelo apreço
De quem sabe amar

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Uivar do Lobo



Desde o dia em que se foi minha aurora,
Este casulo tem sido minha morada.
Sinto saudades do sorriso de minha senhora,
A dor da saudade é como em meu peito uma espada.

Deito na cama e relembro cada segundo,
Do momento em que ela partiu em disparada.
Foi o minuto em que desabou o meu mundo,
E desde então vivo vagando pela madrugada.

No travesseiro um fio de cabelo dela,
E nas roupas o cheiro do seu perfume.
Corro em prantos e tento abrir a janela,

E avisto ao longe um vaga-lume.
Só penso numa coisa: onde estará minha donzela?
E um lobo uiva lá no alto do cume.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Poesia daquele que escreve seus sentimentos e queria que eles tivessem algum efeito na realidade

Alô, som! Alô, checagem, um, dois!
Nem com microfone serei eficiente
Mas também não posso deixar para depois
O que produz, célere, minha mente...

Eu quis produzir poesias para mim
E acabei produzindo-a para outrem
É muito fácil ser triste assim
Pois não podemos mudar a ninguém

É simples o algoritmo da dor
Tome um dose de nostalgia
Se seu coração queimar com o ardor
Um loop infinito mostrará sua magia

Um dia me chamaram de louco
Por ceder às tristes conversas com a lua
Mas louco não sou, nem um pouco
Apenas conheço a realidade crua

Então é isto: Estas palavras são minhas
E minhas, somente!
Não adianta entrar em picuinhas
Pois a inutilidade destas é mais que aparente

Assim termino esta poesia
Que não buscou a ninguém tocar
E queira Deus não seja heresia
Tê-lo tentado outrora lograr

domingo, 21 de outubro de 2012

Passado inteligente, presente imbecil

Eles olham a telinha
E sorriem, afobados
Tomando canja de galinha
Alinham-se todos, alienados

A devoradora de vidas
Nunca foi tão deliciosa
E o seu toque de Midas
Gera neles curiosidade misteriosa

Certo, agora vamos direto ao ponto:

Educação lhes é estranha
Mas sabem de todo este parentesco fictício
Imbecilidade nas entranhas
Ingenuidade nos comícios 

(o plural foi proposital!)

A nação do inventor da roda
Era muito mais inteligente que esta
A civilização da tecnologia moderna
Merece um tiro na testa.

Desejo-te o melhor...


O manjar que fiz para ti,
Apodrece na solidão da geladeira.

A ricota do quixe que preparei,
Já está mofada por inteira.

Os corações de tomate cereja,
Estão infestados de larvas traiçoeiras.

Só de me lembrar do seu nome,
Dá-me vontade de me afogar na banheira.

Todo amor, todo capricho,
Você lançou no abismo.
E agora, tomado de ira,
Te lanço a praga do dia!

Que você regurgite meu coração,
Que lhe entreguei de bandeja na mão.

Que em Judeca você congele,
E que com sua carne Lúcifer se refestele.

Que use seu corpo Caronte,
Para navegar no rio Aqueronte.

Que tudo que usou para me ferir,
Seja voltado contra ti.

E por final a praga mortal:
Que você adquira a eloquência,
E perceba numa epifania a incoerência,
De ter retribuído o bem, dando-me o mal.

sábado, 20 de outubro de 2012

Cotidiano




Ela ridicularizou meu modo de vestir,
Humilhou-me por ter escolhido um filme dublado,
E brigou por ter feito sua sobremesa preferida.

Ela deu piti pois paguei a conta e quis sair,
Me culpou pois teve vontade de fazer xixi,
Me bateu e rasgou a blusa que ganhei de aniversário.

Disse que estava tudo acabado entre nós dois,
Eu a agarrei e fizemos amor depois,
E enfim adormecemos lado a lado.

Apenas mais um fim de semana do casal,
Que se esqueceu que na vida o principal,
É viver em harmonia,
E ponto final.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Se Sócrates estivesse vivo...

Se Sócrates estivesse vivo
Comeria um hamburger ao questionar
Porque o frenesi da modernidade escapa do crivo
Do questionamento, do filosofar?

Ele questionaria o burguês e seu sistema de produção
Indagaria sobre o consumo e o 'ganha-pão'
E vivendo sem nenhum tostão
Pensaria, nostálgico, em seu discípulo Platão

Ah, se Sócrates estivesse entre nós!

Assistiria, atônito, à 'pólis' e sua moderna estupidez
Responderia suas próprias perguntas a sós
Concluiria com extrema rapidez
Que a tragédia se encarregou de nós!

E com um linguajar assim, grotesco
Que em tempos hodiernos não se escuta
Não hesitaria em pedir, em tom animalesco
'Parceiro, passa-me aí a cicuta!'

Já não seria a subversão
A causa de sua morte
Seria a moderna sensação
De depressão pela falta de sorte.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Eutanásia moral

Eu sempre quis, quando minha bondade era ofendida
Desfazer-me de seus restos com repulsa
Reestabelecer a honra perdida
Ver o sangue correr na veia que, forte, pulsa

Quando indigna fosse a retribuição a mim devida
Queria virar um monstro como Cérbero
Uma máquina de guerra a valorizar a própria vida
Pensando menos com o coração e mais com o cérebro

Mas o que eu sempre quis
É o que eu nunca fiz
A selvageria artificial
Nunca trocou meu bem por mal

E fica na vontade
Minha mutação animal
Tudo transmutado pela metade
A morte do bem: Eutanásia moral.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Lúcifer Falcão


Eu era totalmente louco com João,
E nossa loucura não advinha da cerveja.
E só pude responder dizendo "não",
Quando uma puta pediu sua cabeça numa bandeja.

João, João!
Esquecestes de mim?
Não era tu que se denominava "Lúcifer Falcão"?
Qual terá sido o seu fim?

Augusto, amigo!
Sorveu do cálice da lucidez?
Terá sido o santo inimigo,

Que infundiu em ti a sensatez?
Onde quer que esteja nobre amigo,
Seja o meu Don Quixote, outra vez.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Das veias ao papel

Querida Ana, dou-te meus versos derradeiros
Sem saber qual dos dois durará mais:
Minha poesia, símbolo de sentimentos verdadeiros
Ou minha vida que, de amargura descabida, não encontra paz

Ah, Ana, andei pela praia na qual caminhamos uma vez
Entre ondas e castelos de areia, vi tuas pegadas
Nelas pus meus pés, procurando certezas num talvez
E minhas lágrimas deixaram aquelas ondas mais salgadas

Lembro-me de quando te pedi um tempo, para ali ver o mar
Era noite, e com uma amiga lamentavas o porvir
Eu via os carros passarem, os motoristas a assistir ao meu pesar
A lua e as estrelas eram as testemunhas mais fiéis de todo o existir

Ana, minha querida, estou te escrevendo agora
Sabendo que esta missiva não será nenhuma novidade
Em rubras letras dou-te, por alguns minutos, o aroma doce da amora
O suave veneno que me leva à eternidade

Guarda-a nos teus pertences, esta diligente mensagem
Que em versos se esconde, desejando tua obstinada curiosidade
Lembra da romã que comestes de minha boca, no dia da passagem
Quando a sádica metamorfose tomou-te, toda malignidade

E eu sei, meu anjo, que a maçã do teu rosto é verde e assim sempre será
E que não espero que, com estas palavras, torne-se vermelha
Nem espere de mim a decepção que alimenta o desprezo, que prosseguirá
Ou o choro agudo que outrora fez-me franzir a sobrancelha!

Pois te conheço, Ana, mais do que imaginas
Então escrevo para ti esses versos moribundos
De letra em letra, meu sangue alimenta estas linhas
Para que minh´alma parta para conhecer novos mundos!

domingo, 14 de outubro de 2012

Resenha: "Harakiri", de Serj Tankian, é uma ode à diversidade no rock n' roll

Falar em Serj Tankian e lembrar da sua enorme gama de influências convergindo em músicas bastante diversificadas sempre pareceu meio redundante, mesmo nos tempos em que ele compunha no System of a Down. Mas em "Harakiri" ele faz com maestria tal, que é difícil não perceber que este album tem algo de diferente, algo não visto nos predecessores em sua carreira solo, o muito bom "Elect the Dead" e o nada empolgante "Imperfect Harmonies".

A salada musical que Serj Tankian nos oferece em "Harakiri" traz uma boa influência de punk rock/hardcore, uma colherada de Heavy Metal, sons eletrônicos, levadas que em princípio nada tem a ver com o bom e velho rock n' roll, melodias altamente marcantes e arranjos bem interessantes, além da sua potente, melodiosa e agradável voz. É como se ele tivesse aprimorado a veia rock n' roll que ele mostrou em "Elect the Dead" e usado a sua "alternatividade musical" na medida certa, ao contrário do que fez em "Imperfect Harmonies", que é um álbum tão alternativo que é, a exceção de duas ou três boas músicas, muito difícil de engolir.

O novo petardo de Tankian começa então com "Cornucopia", que é aberta com um interessante arranjo de guitarra. É uma boa faixa de rock alternativo, que bota muitas bandas afeiçoadas a este rótulo no chinelo. A segunda faixa é o primeiro single do álbum, "Figure it out", um hardcore ora alternativo, ora um pouco puxado para o heavy metal, e apesar disso, com vocais muito melódicos e uma crítica ferrenha ao capitalismo, atacado na figura dos CEO's (chief executive officer, ou diretores executivos, que são nada mais nada menos que os 'cabeças' das grandes companhias multi-nacionais).

Harakiri segue com "Ching Chime". Uma verdadeira 'maluquice musical', mas que é tão deliciosa que é impossível ouvir só uma vez: ela pode fazer você repeti-la umas duas vezes para prestar atenção nos muitos detalhes que a música oferece, além do refrão, que é carregado por uma melodia tão forte que fica no ouvido. É notável nesta música a influência da música oriental, que Serj sempre fez questão de adicionar às músicas do System of a Down. "Butterfly" segue a tendencia de Serj a explorar, neste álbum, o hardcore, mas sempre com o senso melódico e incomum que lhe é característico.

Chega, então, a faixa título, "Harakiri". Com uma letra forte (sobre a relação intempestiva entre o homem e a natureza, e o consequente desequilíbrio ambiental) e uma melodia arrebatadora, esta música simplesmente conquista. É uma canção para ficar na cabeça e ser cantarolada enquanto se pega um ônibus, ou enquanto se trabalha. Em minha opinião, a melhor canção do álbum.

Em seguida, vem "Occupied Tears", que traz uma impressionante mistura de rock n' roll com jazz, com aquela pitada de música eletrônica para dar a liga. Uma música diferente e que vale a pena ser ouvida com calma. Em "Defeaning silence", vemos a veia experimental de Tankian em altos níveis, com uma música repleta de batidas eletrônicas e vocais que às vezes beira o reggae. "Forget me knot", "Reality TV", "Uneducated Democracy" e "Weave On" fecham o disco dentro daquela linha hardcore+música eletrônica+maluquices tankianas. Talvez estas quatro músicas sejam o ponto baixo do disco. Não que sejam ruins, mas não trazem efetivamente nada de muito diferente em relação às canções anteriores.

Na primeira vez que escutei "Harakiri", tive uma péssima impressão. Achava que, tal como em "Imperfect Harmonies", apenas umas 3 ou 4 músicas prestavam. Mas eu estava enganado (não a respeito do "Imperfect Harmonies"!!). "Harakiri" tem o seu valor, traz a genialidade moderna de Serj Tankian e certamente, enquanto nós fãs aguardamos a volta triunfal do System of a Down aos estúdios para compor um novo trabalho, satisfará nossos ouvidos com todo talento e criatividade do frontman de uma das bandas mais controversas e importantes da cena rock/metal dos anos 00.

A praga (praticamente)

Lanço-te uma praga macabra
Assim como fazia o Mojica
E antes que eu diga "abracadabra"
Curtirás tua dor comendo canjica

A inocência do teu desprezo me enoja
Mas, como sempre, falemos do que te incomoda
Estima e respeito não se compram na loja
Culpar a rotina pelo sumiço já é clichê da moda

Alguém já te disse algo sobre traição?
Sobre a morfética visão da desolação?
Quando menos estiveres esperando, eles partirão
Teu coração como um duro pedaço de pão

Você! Você! E todos vocês!
A 'praticamente' praga do dia é:
Sumir e perder a estima que tivestes uma vez
Daquele que, em ti, perdeu a fé...

sábado, 13 de outubro de 2012

Dois Reais


Havia um semáforo aceso na luz do dia.
E a luz que dele emanava,
Nem de longe competia,
Com a luz do sol forte que brilhava.

Um vaga-lume adentrou meu quarto,
Numa tarde quente de outubro.
Mas seu brilho um tanto falho,
Me fez ver que vivia um absurdo.

Vejo praias e igrejas,
E uma juventude decadente.
Vejo putas e princesas,
E promessas de sensações ardentes.

Tente parar o tráfego.
Volte dez anos atrás.
A lembrança que tinha daquele afago,
Hoje não vale nem dois reais.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

G.P.S

Quero rastrear-te a ti
Num passo eletrônico, te achar
Uma linha daí até aqui
Eu rabisquei para te encontrar

Criptografada em placas e direções
Enclausurada em prédios e em salas
Tu te encontras onde moram os dragões
Que aguardam meus escudos e espadas

Mas em vão trabalha o rastreador
Se com o rastreado não houver contato
Responde meu sinal de dor
Sente meu coração no tato

Veja a festa que te aguarda
Contempla comigo o momento
Dou-te tudo que meu coração guarda:
Gratidão, poesia e sentimento.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

40 graus no Rio


Faz 40 graus no Rio,
E eu não estou legal.
Prefiro o arrepio do frio,
Nesse calor eu passo mal.

Faz 40 graus no Rio,
Cacique Cobra Coral.
Eu bebi, estou no brilho,
Falta muito pro carnaval?

Faz 40 graus no Rio,
Quero fazer amor com você.
Aproveitar que ainda estou vivo.
Aquele motel na Tijuca, quer conhecer?

Faz 40 graus no Rio,
O povo na rua todo feliz!
Vamos subir a Pedra do Sino?
Não é o que você sempre quis?

Faz 40 graus no Rio,
Meu amor morreu de insolação.
Quero chorar, mas não consigo,
A lágrima seca nesse calorão.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Esse Isso


Eu adoraria ter te conhecido,
Quando isso não era importante.
Esse isso que foi estabelecido,
E que agora é determinante.

Se eu não ajo de acordo com isso,
Você chega a passar mal.
Infelizmente é contrato vitalício,
E exige que eu seja leal.

Não desonrarei minha palavra,
Mas não controlo os sentimentos.
Podes castigar-me com a vara,

Tornando escassos os bons momentos.
Não cobre sorrisos do rosto que chora;
Não ouvirá juras d´onde só saem lamentos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Soneto da morte cósmica

Por que ficar sob o domínio da dor?
Não me jogarei no tornado do amor
É mais fácil obliterar-se de maneira gravitacional
Pulverizado no ato pelo astro destruidor

Átomos e mais átomos de discórdia
Nem um rastro bosônico de concórdia
Rastro espalhado no horizonte de eventos cabal
No instantâneo pesar da misericórdia

Busca-me, singularidade derradeira
Não quero perecer ante doenças ou acidentes
Prefiro o mar cósmico dos hádrons

Essa é a honra verdadeira
Ao invés de apodrecimentos deprimentes
O irradiar da corrente de elétrons

domingo, 7 de outubro de 2012

Sumidouro das almas

Não há aqui uma única alma
Quando a vida anda bem
A distância é amiga da calma
Até que a tormenta vem

E aí todos aparecem
Quando tremem as pernas de medo
Sozinhos eles padecem
Até procurarem o que largaram cedo

A vida é um sumidouro de almas
Quando tudo está bem
Esquecem-se de tudo

E é então que se bate palmas
Quando todos eles vêm
Envergonhados, calados como um mudo

sábado, 6 de outubro de 2012

Lar


Que saudade senti deste lugar...
Esta areia, esta brisa,
As pessoas, este mar.

Onde estive era tudo cinza,
Quanto tempo fiquei sem voltar?
Quero que aquela onda me atinja,

E não permita acolá retornar.
Sonhei com estas paragens,
Como ansiei por regressar!

Podem tentar seduzir-me com outras paisagens,
Mas nada substitui isso aqui,
Nada resplandece como este lugar.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

De olhos fechados

De olhos fechados, de pés descalços
Eu via-te com os olhos do acaso
Na penumbra hipnótica de loucos percalços
Impossível tratar-te com descaso

Respirei o ar gelado da tua terra
A inebriante essência do teu ser
E com o apetite voraz da quimera
Quis te devorar e te comer!

Produzistes mel em deliciosas favas
Das quais me deliciei loucamente
Quando te beijava sob a neve e as fadas
Na assintótica realidade sobressalente

E foi de olhos fechados, princesa,
Que eu percebi estonteante verdade:
Em meu coração está, com clareza,
Teu nome gravado para a eternidade!


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Saudade Imensurável


Se minha saudade pudesse ser medida,
Em comprimento não bastaria,
O ano-luz utilizar.

Seria preciso um novo instrumento,
Com maior poder de aferimento,
Somente para o delta escalar.

E através de extrapolação,
Multiplicaria por um bilhão,
E ainda assim,
Não seria possível ajustar.

Mas se quer ter uma pequena noção,
Já não bate mais por mim meu coração,
Mas somente por ela.
A qualquer hora, em qualquer notação.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Estratosférico

Vesti a sandália de Hermes e voei ao infinito
Encriptado pela dolorosa via crucis quotidiana
Alimentado a contra-gosto, num desgosto bonito
Vestido da cabeça aos pés com ignonímia profana

"Tanto bate, até que fura", dizem sobre a água mole
Que em pedra dura despeja-se confiante
E de tanto, desta água, beber um gole
Fui lançado, ligeiro, no espaço distante

Daqui olho meu amor, através do reflexo
Que de meu capacete é lançado à Terra
Para ela é uma estrela, num não-saber desconexo
E considerando-me um astro distante, meus sentimentos enterra

A anos-luz afastado, por palavras dissimuladas
Todas as minhas investidas conheceram derrota
Só não se convenceram de que foram derrotadas
Por desconhecerem completamente outra rota

Do espaço alimento a dinâmica celeste do sentimento
E observo meu amor, linda como o sol
Que queima meu peito marcado em lamento
Movimento melancólico de um triste lá bemol

E quando a música dos lábios dela ecoa
Some, como em seu peito sumiu a minha imagem
Por isto vim até aqui,  nesta névoa sideral boa
Pairar eternamente, em estratosférica paisagem

Como é boa a órbita na qual eu translado,
Na patologia newtoniana dos campos envolvido,
E se um dia me for benéfico voltar àquele lado
Que ela me ame, estando eu do exílio absolvido! 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Lamento Lunar


Lá em cima as estrelas brilham,
Aleatoriamente a bailar.
A canção caótica do universo,
Uma sonata sem tempo ou lugar.

Alguma delas já faleceram,
E seu brilho continua a viajar.
Nos pega num total desapego,
E suas mortes, mal podemos lamentar.

Veja a lua: cheia, linda;
Mas só de vê-la, começo a chorar.
Pois me lembro que nunca chegou o dia,

Que eu pudesse a ti, ela mostrar.
O tempo correu deveras ligeiro (traiçoeiro);
E a ti nunca mais vi, nem ouvi falar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Outrora o sol brilhava mais...

Os raios de sol da primavera me buscavam
Hoje sou eu que os busco, temendo aborrecê-los
Os pássaros contavam-me seus segredos
Hoje, calam-se diante da minha presença
A relva balançava com os ventos do norte
Hoje ela permanece estática e seca...

Outrora o sol brilhava mais
Hoje, traz-me trevas
E eu não me atrevo a exigir o brilho de antes
Porque talvez eu não o mereça
Quem sabe eu tenha apenas me enganado
Com a promessa de um dia ser o primeiro
Ao invés de ser sempre o eterno segundo...

Outrora o mar era mais calmo
E hoje é tão bravio
É o sinal dos tempos que não deve ser desprezado
Dia após dia, o caminho torna-se mais curto
E o cansaço abate-nos sobremaneira
É hora de acender a fogueira
Para lembrar dos velhos tempos
Em que o sol brilhava mais...