segunda-feira, 16 de abril de 2012

Julieta em chamas


Desde os muros da cidade eu vinha correndo depressa
Já não podia mais esperar para ver a minha princesa
O ourives e o alfaiate entenderam minha pressa
Fui atrás da minha dama como o leão corre atrás da presa

Os sinos tocavam na igreja, e a procissão dobrava a esquina
Para meu espanto, a partir dali todos fitavam-me com pesar
Uns homens corriam a minha frente, como se fossem até minha menina
E uma espessa fumaça, cheirando à desgraça, perturbava-me o respirar

Vi uma luz intensa, e senti um calor que irradiava-se bruto e violento
Era a casa de minha vida, que ardia em chamas impiedosas
Esqueci-me de minha própria vida e quis ali entrar, sendo interrompido meu intento
Pelas mãos de um douto que dizia: "Acabou! vai, e compra uma coroa de rosas"

E vi outra alma caridosa, que ali entrara para tentar a minha querida salvar
Saiu carregando um corpo negro, dilacerado pelo fogo, consumido até o fim
Uma lágrima caiu de meu rosto, e um segundo depois pôs-se a evaporar
Entrei, desvairado, no fogo, querendo todas as labaredas queimando em mim

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