Naquele sábado, não levantei de pronto com o despertador, como é de costume. Titubeei na cama por alguns minutos antes de me colocar de pé, silenciosamente, para não acordar meu colega de quarto. Fui à cozinha, tomei meu remédio e fui na varanda. As costas doíam, o tempo nublado desanimava. Deitei no murinho afim de manter as costas reta numa superfície dura, e lá fiquei por talvez um quarto de hora, meditando. Eu não queria sair, sabia que naquele dia seria o tão temido treino longo, os 16km. Iniciante que era nas corridas, era a segunda vez que o faria, e tinha medo. Fui para dentro, escovei os dentes, tomei meu café - mas um café frugal, sem os ovos, como costuma ser -, vesti a roupa de corrida, peguei o celular e o fone de ouvido, uma garrafinha com refresco de morango e sai. Parei antes do portão e fiz um alongamento, bem demorado, como raramente faço. Coloquei uma música, executei o aplicativo do celular que uso para monitorar minhas corridas e parti. Agora já não tinha para onde correr, a não ser para frente, e cumprir o treino longo do dia.
A corrida havia começado, os primeiros quilômetros já se haviam passado e me sentia bem. Estava na minha velocidade tranquila, cerca de 9km/h, um pouco abaixo do que costumam correr, mas não tenho muita ambição. A meta é no dia da prova correr a 10,5km/h, mas ainda tinha 2 meses para melhorar isso. O objetivo do treino de hoje era o meu corpo se acostumar ao longo percurso.
Embora estivesse tudo bem, manhã nublada bonita, temperatura agradável, pessoas correndo pela orla, eu começava a me cansar e pensar em desistir, isso antes dos 5km. Eu havia dormido apenas 5h naquela noite, e as pernas estavam tensas pois havia corrido 7km no dia anterior. Pensei em desistir. Vozes dentro de mim me desmotivavam, a garrafa de refresco que eu havia trago se tornava um fardo, e eu me achava incapaz. Foi aí que, na curva dos 5km veio no sentido contrário um senhor, com certeza com mais de 60 anos, correndo, a camisa empapada de suor. Era a motivação que eu precisava. Agora já havia passado da praia de Icaraí e tinha que enfrentar as curvas e subidas para chegar na praia de São Francisco. No fone de ouvido começou a tocar uma música triste que me remeteu a lembranças do passado, então algumas lágrimas rolaram dos olhos, se mesclando ao suor. Meu psicológico estava uma pilha, e era ele meu oponente naquele momento, eu queria parar, queria descansar, nem que fosse um minuto, queria andar parte do percurso, tentava fazer acordo comigo mesmo de terminar a ida e voltar de ônibus ou caminhando, era o acordo do demônio. Sabia que se parasse por um segundo só, minhas pernas iriam latejar, e eu não conseguiria voltar a correr. Eu não podia parar. Este foi o primeiro grande embate, durou 2km, e eu venci.

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