domingo, 14 de outubro de 2012

Resenha: "Harakiri", de Serj Tankian, é uma ode à diversidade no rock n' roll

Falar em Serj Tankian e lembrar da sua enorme gama de influências convergindo em músicas bastante diversificadas sempre pareceu meio redundante, mesmo nos tempos em que ele compunha no System of a Down. Mas em "Harakiri" ele faz com maestria tal, que é difícil não perceber que este album tem algo de diferente, algo não visto nos predecessores em sua carreira solo, o muito bom "Elect the Dead" e o nada empolgante "Imperfect Harmonies".

A salada musical que Serj Tankian nos oferece em "Harakiri" traz uma boa influência de punk rock/hardcore, uma colherada de Heavy Metal, sons eletrônicos, levadas que em princípio nada tem a ver com o bom e velho rock n' roll, melodias altamente marcantes e arranjos bem interessantes, além da sua potente, melodiosa e agradável voz. É como se ele tivesse aprimorado a veia rock n' roll que ele mostrou em "Elect the Dead" e usado a sua "alternatividade musical" na medida certa, ao contrário do que fez em "Imperfect Harmonies", que é um álbum tão alternativo que é, a exceção de duas ou três boas músicas, muito difícil de engolir.

O novo petardo de Tankian começa então com "Cornucopia", que é aberta com um interessante arranjo de guitarra. É uma boa faixa de rock alternativo, que bota muitas bandas afeiçoadas a este rótulo no chinelo. A segunda faixa é o primeiro single do álbum, "Figure it out", um hardcore ora alternativo, ora um pouco puxado para o heavy metal, e apesar disso, com vocais muito melódicos e uma crítica ferrenha ao capitalismo, atacado na figura dos CEO's (chief executive officer, ou diretores executivos, que são nada mais nada menos que os 'cabeças' das grandes companhias multi-nacionais).

Harakiri segue com "Ching Chime". Uma verdadeira 'maluquice musical', mas que é tão deliciosa que é impossível ouvir só uma vez: ela pode fazer você repeti-la umas duas vezes para prestar atenção nos muitos detalhes que a música oferece, além do refrão, que é carregado por uma melodia tão forte que fica no ouvido. É notável nesta música a influência da música oriental, que Serj sempre fez questão de adicionar às músicas do System of a Down. "Butterfly" segue a tendencia de Serj a explorar, neste álbum, o hardcore, mas sempre com o senso melódico e incomum que lhe é característico.

Chega, então, a faixa título, "Harakiri". Com uma letra forte (sobre a relação intempestiva entre o homem e a natureza, e o consequente desequilíbrio ambiental) e uma melodia arrebatadora, esta música simplesmente conquista. É uma canção para ficar na cabeça e ser cantarolada enquanto se pega um ônibus, ou enquanto se trabalha. Em minha opinião, a melhor canção do álbum.

Em seguida, vem "Occupied Tears", que traz uma impressionante mistura de rock n' roll com jazz, com aquela pitada de música eletrônica para dar a liga. Uma música diferente e que vale a pena ser ouvida com calma. Em "Defeaning silence", vemos a veia experimental de Tankian em altos níveis, com uma música repleta de batidas eletrônicas e vocais que às vezes beira o reggae. "Forget me knot", "Reality TV", "Uneducated Democracy" e "Weave On" fecham o disco dentro daquela linha hardcore+música eletrônica+maluquices tankianas. Talvez estas quatro músicas sejam o ponto baixo do disco. Não que sejam ruins, mas não trazem efetivamente nada de muito diferente em relação às canções anteriores.

Na primeira vez que escutei "Harakiri", tive uma péssima impressão. Achava que, tal como em "Imperfect Harmonies", apenas umas 3 ou 4 músicas prestavam. Mas eu estava enganado (não a respeito do "Imperfect Harmonies"!!). "Harakiri" tem o seu valor, traz a genialidade moderna de Serj Tankian e certamente, enquanto nós fãs aguardamos a volta triunfal do System of a Down aos estúdios para compor um novo trabalho, satisfará nossos ouvidos com todo talento e criatividade do frontman de uma das bandas mais controversas e importantes da cena rock/metal dos anos 00.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se: Comentários são muito bem vindos quando visam acrescentar aos textos mensagens de relevância e de gosto compatível com o texto publicado, mas não o são quando são em tons pejorativos ou de incompatibilidade total com o texto. Agradecemos a compreensão.