segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Das veias ao papel

Querida Ana, dou-te meus versos derradeiros
Sem saber qual dos dois durará mais:
Minha poesia, símbolo de sentimentos verdadeiros
Ou minha vida que, de amargura descabida, não encontra paz

Ah, Ana, andei pela praia na qual caminhamos uma vez
Entre ondas e castelos de areia, vi tuas pegadas
Nelas pus meus pés, procurando certezas num talvez
E minhas lágrimas deixaram aquelas ondas mais salgadas

Lembro-me de quando te pedi um tempo, para ali ver o mar
Era noite, e com uma amiga lamentavas o porvir
Eu via os carros passarem, os motoristas a assistir ao meu pesar
A lua e as estrelas eram as testemunhas mais fiéis de todo o existir

Ana, minha querida, estou te escrevendo agora
Sabendo que esta missiva não será nenhuma novidade
Em rubras letras dou-te, por alguns minutos, o aroma doce da amora
O suave veneno que me leva à eternidade

Guarda-a nos teus pertences, esta diligente mensagem
Que em versos se esconde, desejando tua obstinada curiosidade
Lembra da romã que comestes de minha boca, no dia da passagem
Quando a sádica metamorfose tomou-te, toda malignidade

E eu sei, meu anjo, que a maçã do teu rosto é verde e assim sempre será
E que não espero que, com estas palavras, torne-se vermelha
Nem espere de mim a decepção que alimenta o desprezo, que prosseguirá
Ou o choro agudo que outrora fez-me franzir a sobrancelha!

Pois te conheço, Ana, mais do que imaginas
Então escrevo para ti esses versos moribundos
De letra em letra, meu sangue alimenta estas linhas
Para que minh´alma parta para conhecer novos mundos!

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