quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Estratosférico

Vesti a sandália de Hermes e voei ao infinito
Encriptado pela dolorosa via crucis quotidiana
Alimentado a contra-gosto, num desgosto bonito
Vestido da cabeça aos pés com ignonímia profana

"Tanto bate, até que fura", dizem sobre a água mole
Que em pedra dura despeja-se confiante
E de tanto, desta água, beber um gole
Fui lançado, ligeiro, no espaço distante

Daqui olho meu amor, através do reflexo
Que de meu capacete é lançado à Terra
Para ela é uma estrela, num não-saber desconexo
E considerando-me um astro distante, meus sentimentos enterra

A anos-luz afastado, por palavras dissimuladas
Todas as minhas investidas conheceram derrota
Só não se convenceram de que foram derrotadas
Por desconhecerem completamente outra rota

Do espaço alimento a dinâmica celeste do sentimento
E observo meu amor, linda como o sol
Que queima meu peito marcado em lamento
Movimento melancólico de um triste lá bemol

E quando a música dos lábios dela ecoa
Some, como em seu peito sumiu a minha imagem
Por isto vim até aqui,  nesta névoa sideral boa
Pairar eternamente, em estratosférica paisagem

Como é boa a órbita na qual eu translado,
Na patologia newtoniana dos campos envolvido,
E se um dia me for benéfico voltar àquele lado
Que ela me ame, estando eu do exílio absolvido! 

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