domingo, 16 de setembro de 2012

Wake Up Alone - Parte 1


No rádio, Amy cantava "Valerie". Era uma tarde de sábado e apesar do calor de rachar, não estávamos aproveitando nossa piscina. Esta se encontrava suja, as águas verdes, abandonada. De súbito, influenciado pela música, lembrei daquele baile à fantasia, quando te vi pela primeira vez...


Eu já era um fã de Wino, e aquele era o ano de sua morte. Quando, dentre tantas fantasias caprichadas, cheias de pompa, te vejo, desleixada e sem pretensões a prêmios. Um jeans apertado, uma camiseta branca, usada, e uma pintura nos olhos inconfundível. No braço, tatuagens desenhadas: uma ferradura, uma mulher nua, e perto do pulso direito um raio. Este não era desenhado, era realmente seu. O cabelo, meio desgrenhado, como uma colméia torta. Seus lábios carnudos, batom vermelho, e o corpo magricelo, mas com curvas. Olhos grandes, brilhantes, e pele clara. Era Amy, ou melhor, era você.


Se me lembro bem, você estava sentada, meio longe do som alto e das luzes. Semblante triste, mas incrivelmente belo. Seus olhos fitavam algo que não estava ali conosco. Você não estava em nosso mundo, mas além. De repente, sem esperar, você olhou para mim. Fiquei sem graça, pois estava te observando descaradamente, e não soube o que fazer. Paralisei quando vi que você se levantou e vinha em minha direção. O que fazer? Fugir? Nem pensar. Ensaiei na mente algumas palavras, mas aí você chegou e me chamou para dançar, e eu, tonto, só pude reagir afirmando com um aceno de cabeça. Não lembro qual música tocava, mas dançamos colados, e só após uns dois minutos de dança que comentei algo como "Amy, sou um grande fã seu", e você riu, mas não um sorrisinho bobo, mas uma gargalhada gostosa, contagiante. Naquele momento, comecei a me apaixonar. Depois da dança, fomos no bar, e você pediu um martíni,  lembro exatamente. Eu não conhecia a bebida e pedi para provar, acompanhando você. Finalmente, após brindarmos, você me disse o seu nome: Patrícia. P - A - T - R - Í - C - I - A. Falo hoje, pausadamente, para te ter mais aqui. É o meu ritual. Ah, lembro agora. Eu estava fantasiado de médico, e você brincou, disse "doutor, tenho um probleminha com drogas, será que morro de overdose?". A piada foi sem graça, mas gostei do seu humor negro, ácido...como não me apaixonar? 

Depois, fui saber que naquele dia você completava 22 anos, estava comemorando com amigos naquela boate, e o resto da história é clichê. Apaixonada, namorado, melhor amiga, traição. Realmente no dia do aniversário, ninguém merecia, mas você deu a volta por cima. Dançou comigo, bebeu umas e outras, passou um pouco mal, mas eu cuidei de você. E no fim da noite, você aceitou meu convite. Inesquecível para a noite é pouco. Eu praticamente me senti fazendo amor com a Amy, e foi sensacional.





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