domingo, 12 de agosto de 2012

Crônica: Botaram fogo no Botafogo!

Aos olhos de um espectador ingênuo, ver o plantel do Botafogo e sua colocação no campeonato pode não causar muito espanto. Afinal, a diferença entre o oitavo lugar e o quinto ou quarto lugar não é tanta que não se possa tirar em dois ou três jogos, e isso é de se esperar de uma equipe que possui nomes como Seedorf, Lodeiro, Andrezinho, Jefferson. O problema é que, por trás dessa densa névoa que turva a visão deste espectador, um assombroso incêndio, escondido, consome um clube que outrora encheu de glórias a si mesmo e ao futebol brasileiro.

Entra administração, sai administração, e os muitos problemas do Botafogo não conseguem ser resolvidos. Sempre há uma fumaça enganadora. Em 2007, "municiados" com nomes como Dodô, Jorge Henrique, Zé Roberto e outros, sofremos humilhações nas três competições que disputamos: dentre estas humilhações, uma improvável virada aos 45 do segundo tempo contra o River plate, que nos tirou da Copa Sul-Americana, e uma queda assombrosa de rendimento (popularmente conhecida como "paraguaiagem", termo derivado da designação "cavalo paraguaio", que significa, em hipismo, um cavalo que começa bem e logo depois fica para trás) no campeonato brasileiro.

De lá para cá, humilhações como estas aconteceram ano após ano, e haja visto o estado atual do Botafogo, parece-me que o processo continuará ad infinitum. A coisa ficou séria, muito séria. Montou-se um plantel que, segundo a diretoria do Botafogo, era "competitiva e capaz de brigar por títulos": a equipe alvinegra trouxe nomes como Andrezinho (sempre um destaque positivo enquanto esteve no Sport Club Internacional de Porto Alegre), o grande Clarence Seedorf (que mesmo com trinta e seis anos, ainda possui um futebol refinadíssimo), o bom meio-campista Fellype Gabriel e o garoto Vitor Jr, que começou bem mas que perdeu o bom rendimento dos primeiros jogos.

O treinador, Oswaldo de Oliveira, aplicou um sistema "linha-dura, mas compassivo" no clube. Escolhia a dedo os reforços e o modo de jogo da equipe de modo que se encaixasse com sua filosofia de trabalho. Foi aí que o gás começou a escapar, e bastaria apenas uma fagulha para o incêndio se iniciar. Vindo do Japão, Oswaldo parece ter ficado maravilhado com muitos nomes que ali jogaram e, por algum motivo, achou que seria possível que eles rendessem tão bem aqui quanto lá, esquecendo-se, porém, de que, em quaisquer critérios comparativos entre as duas escolas de futebol, o futebol brasileiro é infinitamente superior ao japonês, e que o nível aqui é o utro.

Fellype Gabriel e Vitor Jr jogaram lá, e foram indicações do Oswaldo. Até aí tudo bem: Fellype caiu como uma luva, e Vitor Jr começou bem. A partir daí, vieram também de lá Raphael Marques (dedicarei um parágrafo a ele em breve), e Amaral, um volante que fora observado por Oswaldo enquanto o treinador no Japão estava, mas que estava na reserva do time do Cruzeiro. Foi aí que pudemos ver, in loco, aqui mesmo na nossa terra, o desnível entre o futebol japonês e o nosso: para brilhar no Japão, basta ser um pereba com um pouco de sorte.

Comecemos com Rafael Marques: Um "artilheiro" do poderoso campeonato japonês, que tinha uma marca de "incríveis" 0.33 gols por jogo. Ou seja, a cada três jogos disputados pelo atacante, ele fazia um gol. Aqui no Botafogo, passados quatro ou cinco jogos que ele tenha disputado, não marcou um sequer. Vi o vídeo de jogadas dele no Japão. É de impressionar, bons dribles, passes, e um ou outro raro gol. Mas depois de ver o vídeo e vê-lo jogar, enchi-me de esperanças, pois quem sabe, indo ao Japão, eu mesmo possa virar um Pelé...

Amaral começou a jogar pelo Botafogo hoje, na partida contra a poderosa Portuguesa, contra quem nós... empatamos! E empatamos com orgulho! Sim, orgulho! Jefferson estava adorando quando as bolas sobravam para ele na pequena área e ele, maroto, deixava-a no chão até que um atacante da Lusa viesse correndo, quando ele a segurava. É bom lembrar que, a essa hora, o placar já estava 1 a 1, e no segundo tempo. Voltando ao Amaral, com menos de 30 minutos jogando pelo Botafogo, ele leva um cartão amarelo por uma falta ridícula. Acho que o Botafogo já me deu motivos suficientes para que eu chegue à conclusão de que Amaral é um caneleiro. Na maioria das vezes, só contratamos medíocres, mesmo...

E claro, como se esquecer do desmonte de nosso ataque no início do brasileirão!? Loco Abreu, insatisfeito com Oswaldo de Oliveira, pediu para sair porque Oswaldo, empolgado com um 4-5-1 que estava fazendo sucesso, o deixava no banco. Herrera, nosso atacante "mediano", mas sempre cheio de raça e muito mais eficiente em fazer gols do que Elkeson improvisado ou o nosso nipônico Rafa Marques, foi vendido a preço de banana para Emirados Árabes. Caio foi para o Figueirense (destino também de Loco Abreu), e Alex, da base, fora emprestado ao Joinville. Não tinhamos um setor de ataque dos sonhos, é bem verdade, mas era infinitamente melhor do que este remendo que Oswaldo e a diretoria do Botafogo ousam chamar de "ataque alvinegro".

E a nossa defesa!? Em 2011, Antônio Carlos e Fábio Ferreira foram considerados uma das melhores duplas de zaga do Brasil. Este ano, foram os responsáveis por uma "linda" marca: somos uma das defesas mais vazadas do brasileirão, e a defesa mais vazada do Botafogo dos últimos tempos, sinal de que 2011 foi algo como a "sorte de principiante" dos dois zagueiros, e que, de fato, eles não estão em condições de vestir o manto alvinegro, que já pertenceu a tantos jogadores honrados e de fibra...

E tudo isto acontece com a conivência da Diretoria. Contratações estapafúrdias como a do Rafael Marques (só um imbecil contrataria um atacante com média de gols de 0.3 gol/jogo no ridículo campeonato japonês) acontecem a borbotões desde muito tempo, e o Sr. presidente Maurício Assumpção tem a perfídia de dizer que monta um time para brigar por títulos. Um absurdo e um desrespeito à nação alvinegra, que tem que lidar com a decepção contínua, domingo a domingo, quarta a quarta, e com as gozações dos adversários (que, diga-se de passagem, estão todos muito melhores que o Botafogo, exceto o Flamengo, que embora esteja em má fase, já dá sinais de melhoras). Enquanto isto, o Sr. Maurício Assumpção ri e engana o torcedor, quando contrata nomes como Lodeiro e Seedorf achando que a torcida esqueceria que esses nomes, sozinhos, não vão dar jeito na equipe, e que não será mais preciso contratar atacantes ou zagueiros, pois o que temos é "digno e competente para buscar títulos".

Eu sinceramente não sei o que fazer. Meu amigo Thiago e eu somos botafoguenses desde a infância, assistimos o Botafogo derrotar o Peñarol na Copa Conmebol de 1993, o Botafogo sendo campeão brasileiro de 1995, campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1998 (que à época era até mais valorizado que os estaduais). Não há mais o que fazer. Os torcedores sabem o que está acontecendo, mas nada é feito. A diretoria, em particular o Sr. Anderson Barros e o Sr. Maurício Assumpção, destroem o Botafogo com sua gerência desastrada do setor de Futebol do clube. Divulgam felizes os bons resultados em outros esportes, divulgam radiantes as boas campanhas de marketing. Mas como fazer marketing de um time com espírito perdedor? De uma equipe com alma amarela? De uma camisa que, outrora gloriosa, virou sinônimo de chacota e desrespeito? Hoje, a torcida da Portuguesa nos chamou de "timinho", ao perceber os esforços dos nossos atletas em fazer "cera", para que a partida terminasse logo e o 1x1 se configurasse. Incrível. Garrincha move-se furioso em seu jazigo.

Creio que resta a nós o protesto. Ou quem sabe, uma ação enérgica, como o povo que derrubou o Rei Luis XVI, decapitando-o na guilhotina e espalhando o terror sobre uma Paris que necessitava de mudanças. Será que atitudes só serão tomadas quando torcedores, tomados de fúria, darem tapas na cara dos jogadores sem alma e incompetentes? Ou quando jogarem rojões sobre o campo de treinamento? Eu quero muito acreditar que não. Quero muito! Não é possível que tudo ficará do jeito que está, e a Diretoria não faça nada. Isso não é amor pelo Botafogo: Isso é ódio, é desprezo, tudo velado por um competentíssimo Marketing, que leva milhares ao Engenhão para ver a apresentação do Seedorf, mas que já viu outros milhares torcedores de nossos rivais comemorando títulos em nosso estádio primeiro que nós.

Meu caro e bom amigo torcedor botafoguense. Peço encarecidamente que você divulgue este texto, como forma de protesto, e concientização da torcida: O Botafogo não são aqueles desalmados que governam e que estão jogando as partidas com o manto. O Botafogo somos nós! Se não nos mostrarmos nossa insatisfação diante dessa balbúrdia que acontece em General Severiano ano após ano, nosso destino é nos solidarizarmos com o América, o Bangu, e deitarmos no leito de morte daqueles que um dia foram grandes, mas que hoje são pequenos, e pequenos com um infeliz orgulho.

3 comentários:

  1. maneira a cronica, gostei mto principalmente do final, e concordo totalmente que o primeiro passo para se encontrar a solucao e um protesto mto bem feito,, poxa como consegue se reunir tantos Botafoguenses na estreia do seedorf, mas para fazer um protesto com o fim de fazer a equipe tomar vergonha na cara nao aparece nenhum Botafoguense???

    so achei pessima a escolha das fotos para cronica.. poderia ser mais criativo.

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  2. Ao contrário da grande maioria da torcida, acho apenas que a diretoria assim como OO pecou na avaliação da formação do elenco, com dois bons zagueiros e um atacante efetivo iremos melhorar bastante já que nas outras posições não acho que estejamos tão mal assim.
    Ainda dá tempo de corrigir o rumo basta vontade e melhor planejamento. Esse RM sinceramente......sem comentários !

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  3. Concordo com ocomentario acima ,nao e todo time que e ruim, a zaga sim e ridicula os laterais tem altos e baixos , o 'ataque' ate cria mas naon sabe finalizar ,mass eu vejo um andrezinho voando um seedorf lucido no meio campo ,gosto muito do futebol do jadson, sei la ja vi times do botafogo jogando infinitamente mais mas tambem sem ganhar nada,como um botafoguense que sofre e sofre muito com esse clube que tanto amo , sinceramente nao tenho soluçoes para esse problema do botafogo

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