E aquela música pesada, densa, era a sua forma de escapar de uma realidade doentia, insana. Era como se, ao se dirigir à guilhotina para ser executado, de repente caísse um enorme feixe de luz do céu, saído de nuvens brancas, e ele por esta luz caminhasse, escapando do inferno até o paraíso. Entretanto, a queda é inevitável, e seu corpo invariavelmente seria queimado pelas chamas da rotina e da loucura humana dos que sobre ele tinham poder e que o cercavam. De segunda a sexta.
Ele arrastava-se da cama, todos os dias, até aquele escritório. Seus colegas? Todos loucos, a exceção de quatro ou cinco. Pode parecer muito, mas dentre o universo dos seus companheiros, é um número pequeno. "Ontem" parece ser uma data especialíssima, pois tudo que se lhe pedia era para aquela ocasião, e quanto mais se lhe pedia, mais o ontem se tornava inalcançável.
Ele era fraco? Talvez. Quem sabe isto tudo não passasse de uma narrativa fantasiosa de alguém a fazer tempestade em copo d´água? Talvez. Mas quem se atreverá a dizer que, em seu caso, era um copo d´água? Acaso os copos d´água de uns não seriam os oceanos de outros? Ou quiçá, um universo aquoso? E quem dirá que era uma tempestade? Não poderia ser o armagedom? O apocalipse?
Permanecer vivo durante um apocalipse num oceano não é fraqueza, é coragem. Não se sabe até quando isto vai durar, nem se ele vai passar ileso, mas uma coisa é certa: as cicatrizes da sua alma indicam que não se trata de tempestade em copo d´água. Sua doença é mais severa. Ele busca a cura, sabe como ela funciona, mas precisa implementar o algoritmo que trará o remédio. Tenho fé de que ele conseguirá, para presentear o mundo com sua alegria, sinceridade, e sorrisos. Ele é um sujeito, assim diriam os populares, "sangue bom"...
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