Eu estou ali, atrás de todos... com olhos fechados...
Poesias recitadas para poucos... o resto rumina de ouvidos cerrados...
Violinistas tocam o requiem, concentrados... Todos ouvem, admirados...
É gente para todos os lados... Hipócritas choram, desajeitados
O canapé enche a barriga... Vestidos e ternos enchem os olhos
Aí vem a minha amiga... Com uma bandeja de nachos e creme de cebolas e alhos
Silêncio! Vem aí o locutor... Com o envelope na mão
Alguns estavam em profunda dor... Até que minhas palavras alcançaram-lhes o coração:
"Deixo:
Aos que me amam, a minha memória e eterno amor;
Aos que me odeiam, a minha vitória;
Aos que me foram indiferentes e agora por isso sofrem, a minha cruel lembrança;
Aos indiferentes que não sofrem, a reciprocidade;
Aos que não me amam, nem me odeiam, e tampouco me são indiferentes, mas que se lembram com carinho de mim, meus agradecimentos;
Aos que não me conhecem e vieram apenas para comer e beber; meus desejos de que, quando estiverem em meu lugar, outros façam convosco o que fazeis comigo no dia de hoje;
Aos que vieram porque são curiosos o suficiente para virem ouvir as minhas póstumas vontades, a dúvida, a confusão, e quem sabe o desapontamento;
E de todos estes, sejam os bons transformados em meu tesouro. Estes, não deixo como herança a ninguém: levo-os comigo no coração para a eternidade e, chegada a hora de vocês, os terei perto de mim.
Assim seja feito"
No coração de cada um havia uma lágrima... todos em pranto, consternados:
Os que me amam, enchiam-se de mais amor e de saudades;
Os que me odeiam, lamentavam não poder me odiar mais;
Os que me foram indiferentes e agora por isso sofrem, ardiam nas chamas do arrependimento irremediável;
Os que me foram indiferentes e assim prosseguiram até ali, ali passaram a me amar;
O mesmo aconteceu aos que não me amavam, nem me odiavam, e tampouco me eram indiferentes;
Os penetras e interesseiros saíram correndo de vergonha;
E, por fim, os curiosos descobriram a futilidade da sua vã curiosidade;
Nada pode sair do nada, nem nada pode virar o nada... Mas pelo amor, do nada sempre pode surgir algo bom.
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